Bússola dos Tempos・229

Bússola dos Tempos・229

Viver sendo vivificado

Keiko Takahashi


Há situações que não podemos controlar

Parece ter havido um sentimento semelhante entre nós durante os vários anos da pandemia da Covid-19.  Isto é, às vezes, por mais que nos esforcemos, existem situações que estão além do nosso controle.

Uma realidade que não pode ser alterada, não importa o esforço que se faça.

Uma realidade na qual não temos outra escolha senão sermos arrastados em uma enxurrada colossal.

Mesmo querendo sair, não pudemos. Mesmo querendo encontrar pessoas, tivemos que abster. Mesmo querendo ir para o local de trabalho, não nos foi possível. Mesmo querendo abrir a loja, renunciamos. Muitas pessoas devem ter se sentido desamparadas.

Os profissionais de saúde que enfrentaram a situação de forma mais resoluta durante esse período não foram exceção.

Mesmo dispondo de conhecimento sobre tratamento de doenças infecciosas, no início, sem saber que tipo de infecção se tratava, os pacientes acabavam morrendo, pois apesar de todos os esforços de tratamento, os sintomas não melhoravam. Diante de tal realidade, acho que não são poucos os profissionais de saúde que sentiram uma sensação de limitação.

Em outras palavras, isso significa que, nesses últimos anos, nós seres humanos fomos confrontados com uma infinidade de realidades que estão mais do que nunca fora da nossa alçada. O choque foi ainda maior na atualidade, pois se trata do momento em que a humanidade, com o auxílio do poder da ciência, solucionou muitos dos problemas da pobreza, doenças e conflitos.

Viver sendo vivificado

No entanto, é por isso mesmo que, em meio às adversidades esmagadoras e dessa enorme correnteza, pudemos perceber que somos existências que “vivemos sendo vivificadas”.

Nós, seres humanos, não estamos, de maneira nenhuma, vivendo sozinhos.

À primeira vista, as pessoas que vivem a sociedade moderna tendem a pensar que podem viver sozinhas.

Uma vez que esteja em um emprego e tenha uma renda apropriada, sente-se livre para viver onde e como quiser. Os tempos modernos permitem as pessoas viverem sozinhas ao seu gosto.

Mas, se encararmos os fatos, nada podemos realizar sem a presença dos outros. É inegável que a realidade em que vivemos está alicerçada por várias infraestruturas. Somente este fato indica que temos o apoio de um grande número de pessoas.

Não somente isto. Para chegarmos a ser quem somos, houve a interação de muitas pessoas, inclusive nossos pais, sem as quais não poderíamos ser o que somos hoje.

Além disso, nós, que compreendemos os seres humanos como almas através da prática do Estudo da Alma1, não podemos nos esquecer da ajuda do mundo imaterial e das existências invisíveis. A maioria das pessoas do mundo moderno esquece que essas existências existem, mas uma dimensão invisível nos apoia continuamente.

Devo repetir a dizer. Em todos os sentidos da palavra, somos existências que não podemos viver sozinhos.

Sendo assim, o que é que nós, que “vivemos sendo vivificados”, devemos pensar?

Responder à dimensão que nos vivifica

Como mencionado acima, nós, seres humanos, vivemos apoiando uns aos outros. E há uma dimensão que sustenta os laços do apoio mútuo como um todo.

As pessoas costumavam chamar essa dimensão tanto como “Deus” quanto como “Buda”. No Estudo da Alma, trata-se da dimensão do mundo real que é percebida como “Grande Existência”, “Consciência do Universo”, ou “Conexão total das dimensões invisíveis”.

A existência da nossa alma, que é a nossa essência, nasce tendo essa dimensão como lar, e a tem como a fonte de suas aspirações e missões.

Todos nós somos existências que “vivemos sendo vivificados”. Mas isso não é a conclusão da narrativa. Pois existe uma dimensão que nos mantém vivos.

Viver como um ser que “vive sendo vivificado” significa viver em resposta a esta dimensão que está tentando nos manter vivos.

Não deixo de orar para que o novo ano fiscal e letivo, que começa em abril, seja um ano de caminhada vinculada às dimensões que nos mantém vivos.

Notas do editor

1. Estudo da Alma

O Estudo da Alma trata de uma sistemática de teoria e prática para que o homem possa buscar um modo de viver que une as dimensões visível e invisível. Em contraste com o “estudo dos fenômenos” representado pela ciência que se ocupa com a dimensão tangível, o “Estudo da Alma” abrange a dimensão material bem como uma dimensão que vai além, a dimensão da mente e da alma, de uma forma mais abrangente. Trata-se de um princípio que constatei a partir da minha própria análise em relação aos seres humanos e das observações das trajetórias de vida dos inúmeros indivíduos com quem interagi. Compreende o ser humano através de uma perspectiva total da alma, da mente e da realidade a fim de corresponder a quaisquer tipos de situação. (Extraído da p.50 do livro Como Fazer Da Sua Vida A Melhor, versão original em japonês).