Bússola dos Tempos・216
Bússola dos Tempos・216
Superando o niilismo
Keiko Takahashi
O problema do niilismo causado pela Covid-19
Os dois anos da pandemia da Covid-19 provocaram uma variedade de provações para nós. Acredito que entre eles, o que não podemos esquecer é o problema do niilismo que está nos desgastando sem percebermos.
A ansiedade relativa a uma doença desconhecida causada pela Covid-19 e a névoa sombria sem desfecho lançaram um fardo inimaginável sobre as pessoas.
A realidade da morte, particularmente, que vinha sendo mantida à distância e reservada no processo de modernização, veio sendo exposta ao nosso redor, ampliando sobremaneira o medo de morrer e a sensação de evitar a morte. Nesse processo, fomos minados por três desconfianças inconscientemente.
Em primeiro lugar, o medo da Covid-19 ampliou a desconfiança dos outros que transmitem o vírus. E a imprensa tem criticado os outros repetidas vezes, estando na vanguarda da fragmentação e reforçando a desconfiança em relação aos outros.
Além disso, a realidade da infecção com suas ondas infinitas de altos e baixos, e sem desfecho à vista, revigorou a desconfiança em relação ao mundo.
E nada podendo fazer a respeito, não tivemos outra escolha a não aumentar a desconfiança em relação a nós mesmos.
A propagação das três desconfianças – se passamos a não acreditar em nós mesmos, nas pessoas ao redor e no mundo, como poderemos nos sentir felizes?
O mundo por trás da porta da esquerda é um terreno fértil para o niilismo
Aliás, o problema das três desconfianças não começou com a Covid-19. A socidade moderna, impregnada de uma visão materialista do homem e do mundo que acredita apenas no que vê, sempre foi um terreno fértil para as três desconfianças.
Não existe embasamento nenhum para confiar em um corpo feito de matéria, cujo interior é vazio. Os outros são apenas rivais com os quais disputamos interesses, e são alvo de críticas imediatas. Como poderemos confiar em nós mesmos, que somos apenas uma coleção de coincidências, e em um mundo que está desconectado conosco? Quanto mais pensamos nessas questões, mais claro fica que os três tipos de desconfiança são inevitáveis na sociedade moderna.
Será que não poderíamos dizer que, de certa forma, a pandemia da Covid-19 expôs os problemas fundamentais da sociedade moderna à luz do dia?
Se ficarmos, sem notar, à mercê dessa correnteza do mundo, não seremos capazes de batalhar contra a corrosão do niilismo.
E não seria por esta razão que estamos diante de uma escolha importante? E essa escolha é exatamente a escolha entre as duas portas que indiquei no meu novo livro Duas Portas.br>
Iremos escolher o mundo da porta da esquerda, onde o homem é visto como “matéria”, e “a morte é o fim”, ou escolheremos a porta da direita, onde o homem é visto como “alma”, e “a vida é eterna”?
Se vivemos no mundo da esquerda, todos os eventos que ocorrem no mundo acontecem por acaso. A vida não deixa de ser uma sequência de eventos casuais, sem conexão ou significado especial. E quando morremos será o fim, tudo acabará em nada.
O fato de estar vivendo agora com sua família e amigos, de ter escolhido um emprego, de estar trabalhando, é tudo o resultado de uma sequência de coincidências. Naturalmente, não existe nenhum propósito ou missão na vida. Nesse mundo, não conseguimos descortinar nenhuma necessidade profunda, nenhum motivo sólido, nenhum significado claro na vida. E certamente, não teremos como evitar a erosão do niilismo.
Superando o niilismo
Por outro lado, e se escolhermos o mundo da porta à direita?
Os acontecimentos das nossas vidas têm um significado. Eles estão interligados e tentam nos ensinar o propósito e a missão das nossas vidas. Cada um de nós não estamos isolados, mas vinculados.
E mesmo que a nossa vida se encerre nesse mundo terreno, tudo não estará acabado. A jornada da alma continuará sem interrupções. E não existe essa idéia de que tudo acabará em nada.
A temática desse mundo é a inevitabilidade que tem um significado. Tudo que aparece no mundo tem inevitabilidade, razão e significado.
Se nos colocarmos no mundo da porta da direita, poderemos naturalmente nos libertar do niilismo acidental, casual, sem sentido e desconexo.